Presenças, ausências e o silêncio sobre a origem dos
recursos no Juruá
A agenda conjunta e a "caravana" de sexta-feira
Na última sexta-feira (12), o prefeito Zequinha Lima,
acompanhado de sua equipe e de uma comitiva de vereadores, cumpriu agenda na
comunidade Tatajuba, no Rio Juruá, onde inaugurou uma escola. A ação se
estendeu ao Rio Valparaíso e à comunidade Tartaruga, com a entrega de 500
cestas básicas.
Chamou a atenção a presença de menos da metade do Poder
Legislativo. Estiveram ao lado do prefeito somente os vereadores Josafá Vale
(UNIÃO), Manam Rural (PDT), Zé Roberto (PP), Tenente Coronel Rômulo
(Republicanos) e Anderson Jerimum (Republicanos). Uma demonstração de fragilidade
da parceria institucional.
Sábado: O Legislativo desaparece da foto
Já neste sábado (13), o cenário mudou. O prefeito e sua
equipe estiveram no Rio Juruá Mirim, na Comunidade Cachoeira do Açaí, para
inaugurar mais uma escola e entregar 350 cestas básicas às famílias
ribeirinhas.
Contudo, ao que parece, os vereadores perderam essa
importante atividade. Nenhum dos parlamentares que participaram no dia anterior
apareceu nas imagens divulgadas pelo prefeito ou pela assessoria do município.
A ausência do Legislativo em uma agenda de igual importância levanta
questionamentos sobre a constância desse acompanhamento in loco.
A matemática da assistência e o dever da transparência
Somando as duas atividades do fim de semana, que
beneficiaram áreas densamente povoadas, foram entregues 850 cestas básicas.
Considerando o volume e o preço médio de itens não perecíveis na região,
estima-se um investimento de, no mínimo, R$ 100 mil.
Não se discute a necessidade
A ação de assistência social é justa e urgente, visto que as
famílias ribeirinhas sofrem com a instabilidade das cheias e das secas severas.
A insegurança alimentar é real e precisa ser combatida. Porém, é dever do Poder
Público ser cristalino quanto à origem dos recursos.
Ocultação institucional: esquecimento ou estratégia?
A população tem o direito de saber: esses alimentos foram
adquiridos com recursos próprios do município, do governo estadual ou do
governo federal?
Embora em algumas fotografias da ação no Juruá Mirim tenha
sido possível vislumbrar, de forma tímida, “aqui tem trabalho do Governo
Federal”, na absoluta maioria das imagens institucionais é impossível detectar
a fonte pagadora.
Não é a primeira vez que aponto essa falha. Parece haver uma
regra não dita de que dar crédito ao Governo Federal (gestão Lula) é evitado
nessas comunidades, mesmo quando a verba ou o produto advêm da União.
Não afirmarei categoricamente que todas as 850 cestas são
federais, pois seria leviandade sem os documentos em mãos. Mas, quando o
princípio constitucional da publicidade é ofuscado e a marca do financiador é
escondida, o juízo de valor e a desconfiança tendem, inevitavelmente, a surgir.
A política do silêncio:
Por que a equipe ou grupo de Lula no Acre esconde o presidente?
Propaganda é a alma do negócio (ou deveria ser)
Dizem que a propaganda é a alma do negócio, mas a maioria
absoluta dos “agentes” do Governo Federal no Acre parece ter adotado o silêncio
como estratégia. Paira no ar a sensação de que é proibido divulgar as ações
positivas da gestão Lula no estado. O que se vê é uma fragilidade gritante na
articulação e na comunicação da equipe ou grupo.
A vergonha de dizer o nome
Salvo raras e corajosas exceções, a maioria dos membros do
governo federal no estado atua com uma timidez inexplicável. Preferem se
esconder atrás da burocracia, citando apenas o "nome da instituição"
ou "o ministério", evitando a todo custo pronunciar o nome de quem os
colocou lá: o presidente Lula. É uma atuação técnica que flerta com a omissão
política.
Opositor no palanque, crédito na conta alheia
O resultado dessa inércia é desastroso. Quando há alguma
ação do governo federal com a presença de prefeitos de oposição, o cenário é
tragicômico: o gestor municipal, que muitas vezes é crítico ferrenho do PT,
sobe no palanque, apropria-se da obra e capitaliza politicamente em cima dos
recursos da União.
É erro crasso
Enquanto a maioria da equipe de Lula se cala ou fala baixo
pelas bandas do Acre, a oposição cresce, "surfa" na onda da BR-364
intrafegável, mas quando algum investimento com recurso federal gera ponto
positivo, a população fica sem saber quem realmente enviou o benefício. No jogo
do poder, deixar o adversário fazer festa com o seu dinheiro não é apenas
ingenuidade; é erro crasso.

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