Vamos falar de BBB! Não! Aqui não se pretende
ir à rotina rasa desse programa. Quer-se apenas também palpitar em uma
discussão levada à baila de modo bastante invasivo ali naquele confinamento.
De repente nove pessoas pretas ali compuseram um elenco de vinte
participantes, um percentual inédito em edições anteriores. Desde o princípio
palavras do vocabulário militante antirracista e feminista foram sendo
articuladas em diferentes contextos. Parecia que pautas importantes seriam ali
discutidas, a contento, pela primeira vez.
Não! Nem foi necessária uma semana pra que o esvaziamento dessas pautas
se externalizasse devido ao mau comportamento e desonestidade daqueles que
reivindicavam a legitimidade de discussão e exploração dessas questões, o dito
lugar-de-fala. Demonstrou-se ali a armadilha que é, por exemplo, individualizar
e adaptar em momentos particulares, como justificativas, pautas raciais
coletivas sérias.
Esse é um grande impasse que há numa atmosfera de militância: nem sempre
cabe esse discurso em qualquer contexto de disputas (sociais). A pauta do
combate ao racismo, ao machismo, à homofobia... carece ser validada em
contextos que a legitime. Militância pode ser feita em qualquer lugar, numa
passeata, num ambiente profissional, num bar, num banco de uma praça, nas redes
sociais... Contudo, carece de existir um contexto que a caiba, especialmente
quando essa militância se dá em resposta a algum fato. Forçar uma discussão num
ambiente em que inexiste situação que a abarque e a legitime é inviabilizar
pautas importantes e invalidar uma caminhada de desconstrução construída (vale
o antagonismo) a duras penas por muitas mãos e pés de coragem e honestidade
militantes.
Naquele reality show, a participante Lumena, por exemplo, é a legítima
imagem de uma militância forçada, descontextualizada que, pelo alcance do
programa, muito contribui para inviabilizar uma luta coletiva honesta fincada
no combate aos privilégios e ônus estruturais de nossa sociedade. A psicóloga,
de modo forçado e raivoso manobra pautas coletivas em favor de defender e
justificar atitudes e táticas desonestas dela e de participantes aliados. Esse
comportamento também é visível em atitudes de outrem ali naquele confinamento.
E demasiadamente palpável na sociedade.
Aquilo tudo serve pra demonstrar que, se alguém ousa fazer militância
contra privilégios históricos e estruturais e a favor de temas caros ao
empoderamento de classes historicamente excluídas, não pode fazer disso uma
odiosa ação contra tudo e todos para justificar comportamentos e atitudes
particulares desviantes da gênese da causa em questão.
A esquerda, que muito reivindica o usufruto dessas lutas - necessárias
-, muitas vezes cai nesse comportamento separatista, descontextualizado e
imposto à fórceps a toda situação social, o que impossibilita a empatia de
tantos às mesmas causas.
Pra ser militante antirracista, por exemplo, é preciso ser um romântico
em busca de apoiadores à causa? Não! A causa é séria e carece ser encarada muitas
vezes com dureza, sim. É necessário o contínuo rompimento de barreiras e, nesse
sentido, a frouxidão é elemento a ser dispensado. Contudo, nessa tarefa sempre
a militância deve ser feita com honestidade, isenta de iras e sem inimigos
fantasmas, mesmo que a força contrária seja estruturalmente invisível.
Era isso!
Por fim, tomara que eu não tenha escorregado em cascas de banana
retóricas ao me aventurar nessa discussão. Isso há de evitar qualquer tentativa
de cancelamento desse lugar-de-fala de um preto nem tão militante.
Raimundo Evilásio
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